O Presidente do MPLA, que por inerência é Presidente da República de Angola pois não foi nominalmente eleito, general João Lourenço, manifestou interesse de reforçar a cooperação com o Egipto no sector da defesa e segurança e considerou que os países que não foram atingidos pelo terrorismo devem estar preparados para enfrentá-lo. Isto porque ele sabe (por experiência própria do seu partido) que os terroristas quando chegam ao Poder deixam de ser bestas e passam a bestiais.
O general João Lourenço (igualmente Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas), que falava no Cairo, Egipto, onde começou uma visita oficial, referiu que Angola (que está longe de ser um Estado de Direito Democrático) quer reforçar a cooperação com a nação egípcia em vários domínios, nomeadamente na saúde, telecomunicações, defesa e segurança.
“O sector da defesa e segurança [nesta cooperação] não fica atrás. O Egipto tem grandes capacidades em termos da indústria da defesa e Angola está interessada em beneficiar dessa capacidade que o Egipto possui, não apenas para recuperar técnica obsoleta, modernizá-la e, eventualmente, vender novo equipamento militar para o Exército, para a Força Aérea”, disse o general João Lourenço que, recorde-se, de 1978 a 1982 recebeu na então União Soviética formação militar, tendo-se especializado em artilharia pesada.
O general João Lourenço afirmou que as autoridades angolanas estão abertas a discutir, a negociar para o país que o MPLA entende ser sua propriedade exclusiva, dar passos em frente no sector da segurança, enaltecendo a experiência e o sucesso que o Egipto alcançou nos últimos anos na prevenção e combate ao terrorismo.
O chefe de Estado (não nominalmente eleito) angolano considerou que o Egipto conseguiu “ultrapassar e superar com bastante mestria” o período de instabilidade que viveu, manifestando interesse de trabalhar com este país para aprender e colher sua experiência neste assunto [terrorismo] que “afecta potencialmente todos os países do mundo”.
“Aqueles países que não foram atingidos pelo terrorismo, em princípio, não devem cruzar os braços, devem estar preparados para enfrentá-lo, em caso de surgir”, observou.
O general João Lourenço que falava, após assistir com o seu homólogo egípcio, Abdel Fatah Al-Sisi, à assinatura de dois memorandos sobre telecomunicações e obras públicas, disse que a sua visita à República Árabe do Egipto se traduz no interesse recíproco de elevar o nível das relações bilaterais ao “mais alto possível”.
“Os nossos dois países são importantes, cada um na região em que se encontra colocado. O potencial de cooperação é grande e vamos tudo fazer no sentido de procurar explorar ao máximo esse mesmo potencial”, frisou o general, manifestando interesse em ver incrementada a cooperação em todos os domínios, de ver investimento privado directo egípcio em Angola, assim como também investimento privado angolano na República Árabe do Egipto.
“Gostaríamos de ver empresas egípcias a participarem em empreitadas de construção de infra-estruturas em Angola, infra-estruturas diversas, estradas, auto-estradas, portos, caminhos-de-ferro, rede eléctrica -sobretudo, redes de transmissão de energia -, não apenas dentro do nosso território, como também para ligar e vender energia aos países vizinhos de Angola, nomeadamente a Zâmbia e a Namíbia”, acrescentou João Lourenço.
Uma cooperação no sector da saúde, traduzida na implantação da indústria farmacêutica egípcia em Angola para a produção de medicamentos e de vacinas, é interesse de ambos os países, como referiu João Loureço, que destacou ainda o forte potencial do Egipto no domínio das telecomunicações.
O Presidente do MPLA disse ainda que ambas as delegações acordaram a necessidade de realizarem, o mais cedo possível, uma comissão mista bilateral como se começar, “finalmente”, a implementar os acordos assinados.
Angola e Egipto estabelecem relações diplomáticas desde Fevereiro de 1976. O Presidente egípcio, Abdel Fattah Al-Sisi visitou Angola em Junho de 2023.
Eis o discurso do Presidente do MPLA (da República por inerência), Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas (do MPLA):
«Nós gostaríamos de agradecer às autoridades egípcias e ao povo egípcio pela forma bastante calorosa como fomos recebidos, desde a nossa chegada aqui, a esta bela cidade do Cairo, ao fim do dia de ontem.
As relações entre os nossos países são antigas; estabelecemos relações diplomáticas em Fevereiro de 1976. De lá para cá, assinámos um conjunto de instrumentos de cooperação que, mesmo assim, não serviram para colocarmos o nível das nossas relações de cooperação como era do desejo dos nossos povos.
Tendo constatado este déficit, o Presidente Abdel Fattah al-Sisi tomou a decisão de realizar uma visita oficial a Angola em Junho do ano de 2023, portanto há sensivelmente dois anos, para, com essa visita, procurarmos relançar a cooperação entre os nossos dois países.
Esta minha visita oficial à República Árabe do Egipto acontece na sequência da sua visita, com o mesmo objectivo, uma vez que ambos os países têm o interesse recíproco de colocarmos o nível das nossas relações o mais alto possível.
Os nossos dois países são importantes, cada um na região em que se encontra colocado. O potencial de cooperação é grande e vamos tudo fazer no sentido de procurar explorar ao máximo esse mesmo potencial.
Nós gostaríamos de ver incrementada a cooperação em todos os domínios, de ver investimento privado directo egípcio em Angola, assim como também investimento privado angolano na República Árabe do Egipto.
Gostaríamos de ver empresas egípcias a participarem em empreitadas de construção de infra-estruturas em Angola, infra-estruturas diversas, estradas, auto-estradas, portos, caminhos-de-ferro, rede eléctrica -sobretudo, redes de transmissão de energia -, não apenas dentro do nosso território, como também para ligar e vender energia aos países vizinhos de Angola, nomeadamente a Zâmbia e a Namíbia.
Nós manifestámos durante as conversações que tivemos, quer no tête-à-tête, quer a nível das duas delegações, o interesse particular de cooperarmos também no sector da saúde. Gostaríamos de ver a indústria farmacêutica egípcia a implantar-se em Angola na produção de medicamentos e de vacinas.
Hoje mesmo vamos ter a oportunidade de visitar unidades de produção de medicamentos aqui na cidade do Cairo. Portanto, os investidores neste sector são bem-vindos a Angola, uma vez que Angola está a fazer ultimamente um grande investimento no sector da saúde em termos de infra-estruturas, equipamento de ponta nalguns casos, em termos de formação e admissão de pessoal médico para atender à nossa população, mas carecemos desta parte que é a de produção de medicamentos e de vacinas.
No sector de telecomunicações, o Egipto é forte, portanto, estamos igualmente interessados em cooperar. O nosso ministro das telecomunicações e tecnologias de informação esteve em visita, a trabalhar aqui no Egipto há escassos dias. Apenas para provar que o interesse nesse domínio também é grande. O sector da defesa e segurança não fica atrás. O Egipto tem grandes capacidades em termos da indústria da defesa e Angola está interessada em beneficiar dessa capacidade que o Egipto possui, não apenas para recuperar técnica obsoleta, modernizá-la e, eventualmente, vender novo equipamento militar para o Exército, para a Força Aérea.
Estamos abertos a discutir, a negociar, para ver se no sector da defesa também damos passos em frente.
Na prevenção e combate ao terrorismo, conhecemos a experiência e o sucesso que o Egipto alcançou nos últimos anos.
Recordamo-nos do período de instabilidade vivido pelo Egipto, período esse que conseguiu ultrapassar, superar com bastante mestria, e nós gostaríamos também de trabalhar com o Egipto para aprender, para colher de si a experiência que possui neste domínio de um assunto que afecta potencialmente todos os países do mundo. Aqueles países que não foram atingidos pelo terrorismo, em princípio, não devem cruzar os braços, devem estar preparados para enfrentá-lo, em caso de surgir!
Falámos de questões também não bilaterais. O Presidente Al-Sisi já desempenhou o papel de Presidente em exercício da União Africana. Gostaria também de colher a sua experiência, o tempo que passou por este cargo; e comprometeu-se a ajudar-me: vai fazê-lo.
Nós aproveitámos esta oportunidade para passar em revista muitos dos conflitos existentes no nosso continente, nomeadamente, o conflito que opõe a RDC ao Rwanda, a situação no Sudão, no Sudão do Sul, a instabilidade nos países da região do Sahel, a situação na Somália, no Corno da África, enfim, todos esses assuntos não passaram despercebidos, assim como a situação aqui bem próximo, no Médio Oriente, mais concretamente, na Palestina, na Faixa de Gaza, onde o Egipto tem jogado um papel muito importante na busca de uma solução que seja definitiva para este conflito que já dura há pelo menos 80 anos.
Precisamos de encontrar uma solução definitiva que passa necessariamente pela criação do Estado da Palestina, como, aliás, é decisão já existente dos Estados Membros das Nações Unidas, através de resoluções que foram aprovadas, várias resoluções, todas apontando para a mesma direcção, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para que reconheça como solução única, viável, deste conflito, a criação do Estado soberano da Palestina, a conviver lado a lado com o Estado de Israel. Portanto, o Estado da Palestina, que inclui, em princípio, também a Faixa de Gaza.
O Egipto realizou aqui na cidade do Cairo, há menos de dois meses, a Cimeira da Liga Árabe, que aprovou o plano de reconstrução da Faixa de Gaza. Só que esse plano só pode ser concretizado numa situação de paz definitiva naquele território.
De qualquer forma, nós, mais uma vez, felicitamos o Presidente Abdel Fattah Al-Sisi pela iniciativa que teve em realizar essa Cimeira. Tivemos a oportunidade de participar, a convite das autoridades locais e da própria Liga Árabe, e estamos esperançados que a situação no Médio Oriente, mais cedo ou mais tarde, vai acabar por se normalizar.
Nós – voltando às questões ainda de ordem bilateral – acordámos a necessidade da realização, o mais cedo possível, da Comissão Mista Bilateral entre os nossos países, Angola e a República Árabe do Egipto, como forma de começarmos, finalmente, a implementar os acordos assinados, quer os anteriores, quer os dois que acabam de ser assinados no dia de hoje, aqui no Cairo, e, portanto, seguirmos em frente com o nosso desejo de fazer coisas acontecerem em Angola e também aqui no Egipto.
Mais uma vez, gostaríamos de agradecer às autoridades egípcias e ao povo egípcio pela forma bastante calorosa, familiar mesmo, como fomos recebidos pelo povo irmão da República do Egipto.»